AMIGOS de ANDRÉ MUSTAFÁ

terça-feira, 16 de junho de 2015

Livro BALOGUN (em processo)

André Mustafá / Campinas SP / 2015
Primeiros escritos do Livro em SP

André Mustafá iniciou em 2009 quando perde sua mãe com falência múltipla dos órgãos aos 80 anos em Salvador a escrita de seu primeiro livro ficcional com o titulo Balogun. Vai morar em São Paulo em busca de novos horizontes profissionais e ampliação de repertório e lá tem um encontro profundo com sua maior dor e perda (o vácuo que a sua Mãe Maria Perpétua tinha deixado). Inicia vigorosamente a escrever e a pintar em ritmo acelerado...talvez para não entrar em depressão profunda, mas é neste momento que rever sua trajetória artística, seus laços familiares, repensa a amizade e também revisiona seus autores de referência. Esses autores que vão influenciar decisivamente sua obra literária e sua série de pinturas intitulada Mulheres Brasil.
  

1 - Paulo Freire; 2 - Gilberto Gil; 3 - Augusto Boal; 4- Eugenio Barba; 5 - Kazuo Ohno; 6 - Frida Kahlo; 7 - Bob Marley; 8 - Mãe Stella; 9 - Walter Smetak; 10 - Federico Fellini; 11 - Ariano Suassuna; 12 - Mestre Pastinha; 13 - Jorge Amado; 14 - Tom Hanks; 15 - Tomie Ohtake; 16 - Mahatma Gandhi; 17 - Peter Brook; 18 - Maguila; 19 - Pierre Verger; 20 - Krishnamurti; 21 - Hermeto Pascoal; 22 - Jerzy Grotowski. Essas referências criam outras ramificações com outros tantos artistas e produtores de seu pensamento no plano estético sensorial, que de alguma forma influenciam também o trabalho de André Mustafá.

Nas referencias que você menciona é possível eleger e sistematizar grupos?
Atualmente não faço mais isso, mas na época que estava na universidade sim... a universidade sistematiza muito o pensamento. Agora eu desejo muito que o pensamento flua e que eu possa junto com essas referencias criar na minha vida prática algo que tenha significado não só para mim, mas para muitos que estão na busca de descobertas pessoais.

É possível ver distinções entre as personalidades do caleidoscópio e perceber que quase você não tem referencias de seu tempo. A que se deve isso?
Sim, nitidamente, a década de 90 que estive na graduação em Salvador, fomos apresentados esses imortais pelos professores e alguns fazedores de cultura na época. Logicamente a Cidade me proporcionou também o encontro com Luiz Carlos Vasconcelos, Eugênio Barba, Teatro Antagon, o Teatro LUME, o Bando de Teatro Olodum, os grupos afros culturais do subúrbio, diversas bandas, grupos de teatro fora das pautas dos grandes teatros, performem... 

Quais são as outras referências que de alguma forma não entraram nesse caleidoscópio?

Vejo que você tem muito poucas referencias femininas, algum motivo?
Meu pai biológico, Isoláquio Mustafa, faleceu quando tinha 13 anos de idade e antes de seu falecimento não tive muito contato (filosófico, cultural ou no dia a dia trocando ideias e papos) com ele: ele teve arteriosclerose. Mas convivi intensamente com minha mãe biológica, Maria Perpétua, que era (entre outras tantas coisas) uma leitora. Nós trocávamos muitas informações e a construção do homem que sou hoje devo a Ela. Uma outra referencia é minha mãe e orientadora "espiritual": Mãe Stella de Oxossi, que os poucos contatos que tenho com Ela anualmente em Salvador me fazem repensar valores e atitudes práticas do dia a dia. No campo das artes plasticas, para a montagem d série de pinturas Mulheres Brasil, tive uma referencia ímpar do trabalho de Frida, que cria um vigor nas cores e uma critica moderna ao trabalho naife tradicional. Agora, logicamente tenho um grande carinho pelo trabalho de Tomie Ohtake, que tive a oportunidade de ver sua exposição e conviver no seu Instituto com alguns membros da arte abstrata que tanto acho complexa... e que algum dia (quem sabe) poderei realizar algumas obras. Mas no mais posso salientar aqui o trabalho artístico de minha irma Bete Mustafá ou de uma grande amiga Adelice Souza que é uma diretora de teatro que faz de seu teatro e sua literatura algo vigoroso e pleno. Na época de faculdade tive contato com as professoras Sonia Rangel com seu trabalho plastico singular e que me fez muitas vezes mergulhar em um mundo onírico e Suzana Martins de dança na qual fui orientando em bolsa de pesquisa do CNPq, na qual me apresentou as danças populares da Bahia. Obviamente o meu contato com a minha ex-esposa e coreógrafa Marília Galvão durante quase 18 anos me fez ter contato com o universo da dança-teatro de Pina Bausch...Atualmente minha esposa Renata Montalvão e sua filha Maria Clara me fazem repensar o meu espaço feminino na vida: coisas boas, doces e suave e suas cores e matizes permeiam meu dia a dia.

Porque você que é de teatro e artes plásticas se debruça no campo da literatura?
Muito simplesmente acho que em muitas partes das artes plasticas ou artes da cena não me possibilita a viagem em que a literatura vem transando comigo. O espaço da escrita convergem com a dramaticidade dessas duas outras artes, mas divergem de sua profunda necessidade de um espaço em que a solidão grita, se elabora em imagens não codificadas... acho que minha literatura está tentando explicar uma lacuna que o teatro e a pintura não conseguem (pelo menos ainda). No entanto o livro Balogun, está cheio de ilustrações minhas que fiz ao longo desses anos que tentam traduzir (muito didaticamente) diga-se de passagem o que a literatura deixa muito solto. Não que essa forma "solta" não possibilite um voo muito mais astucioso do leitor, mas a livro quer também falar para uma galera mais jovem também que se atrai com o universo de uma literatura ilustrada.

O seu livro tem um leitor de uma idade especifica?
Hoje em dia tenho uma filha de 10 anos (Maria Clara), filha do coração, e eu gostaria que se ela fosse em uma livraria ou biblioteca folheando o meu livro e vendo as ilustrações tivesse um interesse de leva-lo para casa. No entanto acho que a linguagem do Livro, atinge outras faixas etárias e públicos interessados em uma literatura ficcional com referencias a fatos reais.




Você diz que o Livro está relacionado com fatos reais. Quais são eles?
O Livro é uma analise crítica sobre a sociedade atual e as inúmeras dificuldades que as famílias de comunidades tradicionais encontra em aceitar as formas novas de pensar e agir de seus novos membros ou de outros indivíduos que não fazem parte do circulo consanguíneo familiar, mas que de alguma forma são inseridos no grupo. No Brasil tivemos inúmeros caso relacionados aos escravizados negros e indígenas e suas formas sincréticas. No livro, o personagem Balogun é "forasteiros" de sua própria família. O livro levanta uma pergunta: É possível famílias de culturas tradicionais casarem seus filhos com indivíduos de fora? É possível viver em um mundo sem fronteiras? De famílias multi coloridas? É possível um Balogun vindo de outra cultura ser aceito na comunidade e assumir as atividades de seu cargo?

O que significa a palavra Balogun? E porque o título do seu livro é esse?
Balogun é um título sacerdotal de alto grau da religião do candomblé e na tradição Ketu iorubá (África/ Brasil) corresponde a um dos cargos da sociedade Ogboni; que é uma sociedade eminentemente masculina que junto com o Babalawo e Oluwo entre outros cargos, tem o poder de destronar os reis e os banirem da cidade. Na África, Balogun está associado ao império de Xango (em Oiyó/ Nigéria) e no Brasil associou-se ao cargo mais alto da casa de Ogun dentro dos tradicionais terreiros de candomblé de nação Ketu como o caso do Ile Axé Opo Afonja em Salvador. A palavra "Balogun" é composta de "Ba" (quem vem de Babá = Pai) e a palavra " "Ogun" (que menciona tanto o Orixa Ogun, como se traduz na palavra "guerra"); assim a palavra Balogun (ao pé da letra) seria o Pai da Guerra. No livro, Balogun é um jovem personagem que o Orixa Ogun o nomeia como titulo máximo ao cargo de sua casa, na qual passa por diversos caminhos, encontra-se com ancestrais, divindades míticas da natureza, sonhos que o retiram do corpo físico e uma comunidade que anseia por sete anos um Balogun idealizado... mas quando é apresentado ao real Balogun inicia-se um conflito.






 André Mustafá / 01/02/1974. Atualmente mora em Campinas - SP Brasil. Trabalha com arte-educação e desenvolve ilustrações, pinturas e oficinas artísticas em parceria com ongs e escolas da Cidade. Telefone para contato: 19. 98185-7071

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